9 de outubro de 2009

Colônia de férias para ateus


Uma colônia de férias de verão britânica está oferecendo uma experiência pouco comum para jovens de 07 a 17 anos. A iniciativa promove uma "alternativa sem deus", em oposição a acampamentos de verão mais tradicionais administrados por grupos religiosos.

Algumas das 24 crianças que chegaram ao acampamento Camp Quest, na cidade de Bruton, sudoeste da Inglaterra, pareciam jovens demais para lidar com conceitos tão amplos e complexos como religião e deus.

A colônia de férias tem uma missão ambiciosa. Ela é "dedicada a melhorar a condição humana através de questionamento racional, pensamentos críticos e criativos, e método científico e pela separação entre religião e governo".

O objetivo mais imediato, segundo os diretores, é ensinar cooperação, tolerância e empatia, através de atividades esportivas e brincadeiras.

Mas são as visões sobre algumas questões mais complexas da vida que a distingue das demais, sobretudo o tratamento da religião.

"Os participantes aprendem que o comportamento ético não depende de crença religiosa e doutrinas, que essas são às vezes um obstáculo para o comportamento moral e ético, que pessoas sem religião também são boas e totalmente capazes de viver uma vida feliz e cheia de significado", afirma o site do acampamento na internet.

A diretora da colônia de férias, Samantha Stein, afirma que as crianças são estimuladas a pensarem de forma independente.

"Se as crianças se depararem com uma questão como criacionismo, por exemplo, nós discutiríamos as evidências. Nós não diríamos 'criacionismo é bobagem", diz a diretora. "Elas pesarão os fatos e concluirão se isso é verdade ou não".

O pai de uma das participantes do acampamento ateu disse que já levou sua filha a outros acampamentos cristãos e que estava em busca de uma experiência mais ampla para a criança.

Leeroy Murray, pai de três meninos em Camp Quest, disse que não descartaria mandá-los a um acampamento religioso.

"A coisa mais importante para mim aqui é dar para eles uma variedade de experiências e estimular que eles entendam o máximo possível de religiões e de ciências, e dar a eles as ferramentas para que decidam por conta própria o rumo que querem seguir", disse Murray.

Os filhos de Leeroy parecem mais interessados nos aspectos menos filosóficos do acampamento.

"Eu quero fazer novos amigos, encontrar novas pessoas e fazer todas as atividades preparadas para nós", disse um dos filhos, de 9 anos.

"Eu gosto das atividades porque elas melhoram a sua saúde e fazem com que você esteja em forma", disse outro filho, de 8 anos.

Além das atividades esportivas e de lazer como escaladas, tirolesa, natação e canoagem, algumas brincadeiras procuram tratar de questões mais profundas.

A principal atividade "científica" do acampamento consiste em uma busca a dois unicórnios invisíveis.

Os instrutores dizem aos jovens que os unicórnios não podem ser vistos, provados, cheirados ou tocados. Eles também não conseguem fugir do acampamento e não se alimentam de nada.

A única prova da sua existência, segundo os instrutores, está contida em um livro muito antigo repassado por "inúmeras gerações".

O prêmio oferecido a qualquer criança que conseguir provar que os unicórnios não existem é uma raríssima nota de 10 libras (cerca de R$ 30), que traz a efígie de Charles Darwin (criador da teoria do Evolucionismo) e autografada por Dawkins (o mais célebre pensador ateu da atualidade).

Mas os jovens ateus precisarão quebrar a cabeça – até hoje mesmo após 23 edições do Camp Quest nos EUA, ninguém conseguiu levar o prêmio para casa.

Fora do acampamento, no portão de entrada, um solitário manifestante protesta contra o acampamento. Paul Arblaster, membro de uma igreja local, segura cartazes com mensagens críticas ao Camp Quest. Ele protesta também contra o exercício dos unicórnios.

"É claro que eu acho que existe uma pegadinha aí. Eles podem dizer que o exercício dos unicórnios não tem nada a ver com deus. Mas eu acho que é uma representação razoavelmente velada deste tipo de doutrina", disse o manifestante.

A diretora do acampamento rebate o argumento. "O objetivo é fazer com que as crianças pensem sobre coisas como ônus da prova", diz Samantha Stein.

"Quem precisa provar que os unicórnios estão lá... é a pessoa que diz que eles estão ou é a pessoa que diz 'Não, eu acho que eles não existem' ?"

O Camp Quest surgiu há 13 anos nos Estados Unidos, onde escoteiros e grupos religiosos são a maioria no mercado de acampamentos de verão – muito populares entre famílias americanas nas férias escolares.

A versão britânica dura cinco dias e custa 275 libras (cerca de R$ 900). Mesmo assim, a procura tem sido grande: já existe lista de espera até 2011.

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