3 de novembro de 2009

Após revelação divina, soropositivo abandona tratamento e morre


A sabedoria popular defende que a fé remove até montanhas. No caso do desempregado Gilson de Oliveira Silva, 44 anos, a fé não foi suficiente para livrá-lo dos efeitos do vírus HIV.

Depois de frequentar a Igreja Ministério do Fogo por um ano e ter ouvido uma revelação de que estaria curado, Gilson suspendeu por seis meses o tratamento com coquetéis. Foi sepultado no Cemitério Quinta dos Lázaros.

Segundo Simone Oliveira Silva, irmã de Gilson, ele sofria muito em virtude do HIV e de um câncer que teve na face. "Ele estava desesperado. A fé nessas revelações cegaram meu irmão", afirma Simone, que ainda quer detalhes sobre o que teria levado Gilson a abandonar os medicamentos.

Ela contou que foi agredida pelos membros da igreja e pela própria pastora e promete levar o caso à Justiça.

A sede da Igreja Ministério do Fogo fica numa transversal da Avenida Jorge Amado, no Imbuí, em Salvador, Bahia. A casa, sem identificação, estava fechada na manhã após a morte.

Vizinhos que não quiseram se identificar disseram que a igreja é uma chaga no local. Uma senhora garantiu que a líder religiosa manipula os fiéis. "Se uma mulher é casada e o marido não vai ao culto, ela inventa histórias pra a pessoa ficar impressionada até arranjar outro", contou.

Uma moradora da rua onde está a igreja afirma que o local é sempre palco de confusões e muito barulho. "Eles enganam as pessoas dizendo que são de Cristo. Fizeram a maior confusão quando a família do rapaz (Gilson) chegou", diz a moradora, garantindo que não é a primeira vez que a pastora faz promessas de cura.

Segundo o criminalista Sérgio Reis, abusos de pessoas que se dizem agentes da fé ou enviados de deus podem ser denunciados à polícia e ao Ministério Público, pois tais cultos geram prejuízos à comunidade.

"Nesse caso específico, enquanto acreditava estar curado, o rapaz pode ter até transmitido o vírus para outras pessoas. É preciso que em situações assim haja a interferência dos poderes públicos", defende.

Gilson recebia os coquetéis contra o HIV no Hospital das Clínicas. O infectologista Eduardo Martins Neto não confirmou se ele deixou de pegar os medicamentos, mas contou que os pacientes são orientados sobre a necessidade de manter o tratamento.

"Algumas vezes, fazemos contato com pacientes faltosos, mas não há como controlar toda a demanda", disse.

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